quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Ruptura inevitável do Euro – parte 4/3 (meio complicado)

Tive um par de comentários tão bons que não resisto a continuar com o tema.
Antes, preciso enfatizar que meus argumentos refletem minha opinião quantitativa, não são argumentos “lógicos”, no sentido da inexorabilidade matemática. Assim, não vejo nada de errado em você discordar de mim. (Só veria se dissesse que é possível quebrar algo indestrutível, como um Currency Board. Lembre-se da Argentina...).
O comentário do Dudu é que os desequilíbrios de Conta Corrente no Euro foram devidos a problemas de moral hazard. Os alemães emprestaram mais do que deviam para os gregos porque entendiam que seriam salvos. Eu não acho que foi isso. Eu acho que eles realmente acreditavam que os periféricos tinham elevadas taxas de retorno, e erraram. E eu não sei se eles serão salvos.
Mas meu melhor argumento contrário é que o melhor exemplo de moral hazard criando desequilíbrios cambiais que conheço é aquele em que as empresas se endividam em moeda estrangeira. Você sabe, aquela história das empresas “sadias”, e da literatura de balance sheet crisis. O ponto é que isso ocorre independentemente de haver união monetária, e é até mais grave pelo fato do câmbio ser supostamente flutuante.
O outro comentário, do Genta, é sobre equilíbrios múltiplos (volto depois a isso) e sobre os casos da Irlanda e Espanha. Esses países supostamente foram os melhores alunos do Maastricht e agora estão na berlinda. Será que o culpado é o próprio Maastricht?
Sem querer sair pela tangente, meu argumento era que o Maastricht deveria ter sido satisfeito desde o primeiro instante. Isto é, antes de se unir qualquer país já devia ter dívida abaixo de 60% do PIB. Caso contrário, estaria sujeito a problemas durante o período de convergência. (E o mesmo tipo de problema acontecerá no futuro, agora que as dívidas subiram).
Outro ponto é que a Irlanda não foi tão boa aluna assim. Seus bancos estavam quebrados, cheios de hipotecas durante uma bolha imobiliária, igualzinho aos EUA. Quando esses bancos quebraram, e foram estatizados, a dívida pública aumentou em 40% do PIB. E o grande medo é que na Espanha teremos os mesmos problemas, quando e se as cajas começarem a quebrar.

Um comentário:

  1. Professor,

    Mesmo que Maastricht estivesse funcionando a pleno vapor e os desequilíbrios nos balanços de pagamentos fossem todos decorrentes de transações entre privados não sujeitos à "moral hazard", restaria o problema fundamental da falta de integração dos mercados de trabalho. Dada a perda de produtividade decorrente de períodos longos de desemprego, não se confugura numa perda absoluta a incapacidade de impulsionar a economia local via estímulos monetários quando não existe a possibilidade do grego médio ir trabalhar na Alemanha? Seu vizinho sempre pode ir ao Piauí (mesma língua, mesmas leis trabalhistas, etc)...

    Abs,

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