sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Monetização via Liquidez Bancária?

Como discuti em post anterior, a recente mudança de atitude do Banco Central Europeu (ECB) sugere que ele passou a aceitar qualquer tipo de colateral dos bancos. Se isso é verdade, será que a crise já foi resolvida?
O seguinte argumento sugere que a resposta é sim. Os bancos italianos que já estão quebrados teriam incentivos para comprar um monte de títulos soberanos da Itália. Eles podem usar esses títulos, que pagam 6%, como colateral, para pegar Euros no ECB, que são universalmente aceitos, e tem juros de 1%. Nessa operação, os bancos ganham 5% ao ano.
Três explicações: (i) Os bancos estão quebrados exatamente por terem muitos desses títulos soberanos podres na carteira. Mas há um monte desses bancos. (ii) Seria uma estratégia empresarial do tipo “go for broke”: já que eu estou mesmo quebrado se o soberano der calote, deixa eu arriscar e ganhar uma bolada caso isso não ocorra. (iii) Para os bancos que não estão quebrados, a estratégia envolve risco (veja enorme flutuação dos preços dos títulos) além do estigma de ir buscar recursos no ECB (um sinal de que o banco não está muito bem das pernas).
Como consequência dessa imensa demanda, os juros soberanos italianos cairiam, e a Itália ficaria solvente. Parece mágica. Mas, na verdade, podemos pensar que é como se tivesse havendo um bail-out (salvamento) implícito por parte ECB, que estaria monetizando a dívida Italiana. Implícito porque o esquema só funciona se se perpetuar para sempre.
Contudo, eu acho que isso não vai acontecer. Minha impressão é que o ECB não vai deixar que os bancos saiam comprando títulos soberanos podres. Nessas alturas o monitoramento sobre os bancos é imenso, e o ECB pode facilmente pressionar os bancos para que façam ou não algo, assim me dizem meus companheiros que foram banqueiros.
Meu rational é que o ECB não gostaria que isso acontecesse. Entendo que o ECB quer que a Itália continue com juros elevados no mercado secundário, sob pressão, para que faça o ajuste fiscal.

O primeiro leilão de Repos de longo prazo, no qual o ECB supostamente aceita qualquer colateral, será feito no proximo dia 21. Vamos acompanhar o que acontecerá com os juros italianos. Mas o fato dos juros italianos não terem caido como antecipação do evento já é um sinal de que ainda não foi dessa vez.

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