terça-feira, 13 de dezembro de 2011

A ruptura do Euro é inevitável? (parte 2/3)

Em minha opinião, se as condições fiscais de Maastricht fossem satisfeitas (déficit público máximo de 3%, dívida pública máxima de 60% do PIB), a União Monetária Europeia ficaria de pé. Isso não significa que ela seja uma “união monetária ótima” no senso de Mundell (1967) ou Alesina e Barro (2002). Provavelmente os países estariam melhores, economicamente falando, se nunca tivessem unido suas moedas. Mas essa é uma questão diferente. A “besteira” já foi feita, e a pergunta é se agora a separação é inevitável. (As aspas porque pode até ser uma besteira se o critério for econômico, mas não é no ideológico e político, que foram os verdadeiros motivadores).
Vou rebater os principais argumentos contrários à união, que motivam a visão da inexorabilidade da ruptura:
1)      Falta de similaridade (Grécia é muito diferente da Alemanha). É verdade, mas São Paulo também é bem diferente do Piauí, não está havendo clara convergência entre os dois (artigos do Pedro Cavalcanti e Roberto Ellery), mas eles estão na mesma união monetária.
2)      Sincronia dos choques (Há períodos em que a Alemanha está indo bem, enquanto a Grécia está indo mal, e ambas tem o mesmo juro básico). Meu vizinho de baixo acabou de perder o emprego. Ele prefere que o Banco Central do Brasil (BCB) reduza os juros para estimular a demanda e melhorar o mercado de trabalho. Eu, em contraste, ainda tenho meu empreguinho na USP, e prefiro que o BCB suba os juros, pois estou preocupado com a inflação, que está comendo meu salário. Mas infelizmente, meu prédio inteiro está sob a mesma política monetária.
3)      Déficit comerciais ou Contas correntes não nulas (enquanto o Euro está fraco para a Alemanha, ele está excessivamente forte para a Grécia. Por isso, a Conta Corrente de um é superavitária, e do outro deficitária). Dá também para usar o exemplo do meu vizinho, agora que eu lhe emprestei uma grana.
Na parte 3 digo porque o Maastricht é tão fundamental.

5 comentários:

  1. Professor, São Paulo é mais rico que o Piauí, mas para manter o estado mais pobre na mesma união monetária, transfere todo mês recursos para ele.

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  2. Obrigado pelo comentário, Cláudio. Na verdade as transferências fiscais ocorrem também na Europa, através do EIB, e não são pequenas no caso da Grécia. Abraço, fk

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  3. " Sincronia dos choques (Há períodos em que a Alemanha está indo bem, enquanto a Grécia está indo mal, e ambas tem o mesmo juro básico). Meu vizinho de baixo acabou de perder o emprego. Ele prefere que o Banco Central do Brasil (BCB) reduza os juros para estimular a demanda e melhorar o mercado de trabalho. Eu, em contraste, ainda tenho meu empreguinho na USP, e prefiro que o BCB suba os juros, pois estou preocupado com a inflação, que está comendo meu salário. Mas infelizmente, meu prédio inteiro está sob a mesma política monetária."

    O item em seu argumento que me incomodou foi "eu ainda tenho meu emprego na USP e prefiro que o BCB suba os juros, pois estou preocupado com a inflaçao, que está comendo meu salário".

    Eu, como estou olhando minha restriçao intertemporal, creio que esta estratégia de subir os juros irá, na direçao oposta que você fala, derrubar a minha renda, pois penso em termos de valor presente. Claro, se voce ainda tem a regra de Taylor, a reduçao é mais do que certa. Será isso mesmo?

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  4. Engraçada a proposiçao do Claudio Madeira: São Paulo por ser mais rico do que o Piauí (por aqui, quase todos os estados são) transfere todo mês recursos para ele. Me parece que é exatamente o oposto. De qualquer forma,me parece ser uma boa sugestão para um trabalho acadêmico.

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  5. Caro Marco, gostei bastante do seu comentário sobre a elevação de juros piorar minha renda presente. Preciso pensar. Acho que podemos transformar a pergunta em por que a inflação reduz a utilidade, num modelo intertemporal, se para combatê-la há que se elevar os juros, reduzindo o valor presente da renda. Imagino que a resposta tem a ver com o fato de que a inflação terá de ser combatida algum dia, e postergar a elevação de juros implicará em ainda maiores juros na frente. (Ou em hiperinflação). Abraço, fk

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